Mulheres deficientes que estão saindo vitoriosas de uma luta.


Conhecer para romper as barreiras dos preconceitos.
Muita gente pensa que a deficiência impede o relacionamento amoroso e sexual, mas isso não é verdade. Derrubando mitos e preconceitos, é a cada dia maior o numero de mulheres deficientes que estão saindo vitoriosas de uma luta comovente e garantindo seu direito não só de amar, mas de casar e ter filhos.
Se for um fato que a deficiência pode acarretar limitações físicas, é certo também que não são essas limitações, em si mesmas, que fazem com que a pessoa deficiente seja estigmatizada pela sociedade. “No conjunto dos valores culturais que definem o indivíduo normal, estão incluídos padrões estéticos voltados para um corpo esculturalmente bem-formado. De certa forma, quem foge desses padrões agride a normalidade“, diz o sociólogo João Batista Cintra Ribas, autor do livro “Quem são pessoas deficientes” (Ed. Brasiliense). Isso significa que a distância que separa a mulher deficiente de uma não deficiente é maior do que aquela que distingue a mulher comum de uma Luiza Brunet.
Mas engana-se quem pensa que as mulheres deficientes estejam escondidas em casa, longe do mundo e dos homens. Cada vez mais elas estão indo à luta, mesmo que não seja fácil nem agradável expor-se a julgamentos e preconceitos.
Também se imagina que uma mulher deficiente seja incapaz de tomar conta de uma casa.
Embora a desinformação leve muita pessoas a acreditar que mulheres deficientes não podem nem devem ser mães, a maioria delas – e aqui se incluem as portadoras de seqüelas de poliomielite e mesmo casos de lesão medular – é capaz tanto de sentir prazer como de gerar e ter filhos, inclusive através de parto normal. Em sua tese de mestrado intitulada “Reabilitação Sexual da Pessoa com Lesão Raquimedular“, a Dra. Isabel Loureiro Maior, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, mostra que as contrações uterinas são automáticas e persistem sem a conexão neurológica. Assim, paraplégicas e tetraplégicas têm contrações absolutamente normais, mesmo que não percebam a ação uterina.
Pensa-se ainda que deficientes terão, necessariamente, filhos portadores do mesmo tipo de deficiência, o que também não ocorre, exceto em alguns casos muito específicos. Leonor, 34 anos, cega desde o nascimento, lembra que seus pais nem se alegraram quando ela engravidou, tal o medo de que o neto tivesse problemas. “Tenho dois filhos saudáveis e alegres. O mais velho, de seis anos, já me ajuda a cuidar do menor de nove meses. Eles jamais foram vítimas de acidentes mais sérios do que os joelhos ralados de costume“, afirma Leonor.
A questão da auto-estima e auto-imagem passa, necessariamente, por uma via de mão dupla. Se a mulher deficiente não vê a si mesma como atraente e capaz de ser amada, provavelmente nenhum homem reconhecerá nela essas qualidades. Mas se, por outro lado, nenhum homem jamais a tiver olhado como mulher, é quase certo que ela não se acreditará com os mesmos direitos das outras.
Interessante observar que os homens deficientes, também submetidos ao mesmo bombardeio publicitário para procurar uma mulher de corpo escultural, nem sempre fazem o papel desse espelho.
O que ocorre é que, aparentemente, para o homem portador de uma deficiência, é ainda mais importante que para um não deficiente ter uma mulher “tipo avião“. Além de ascender socialmente, ele ameniza a carga de preconceitos que recai sobre si, como se quisesse provar: “Sou deficiente, mas sou potente.”
É verdade que o mesmo raciocínio poderia ser aplicado à mulher deficiente que busca um companheiro de físico perfeito, mas vale lembrar que as mulheres, deficientes ou não, são ensinadas a valorizar mais outras qualidades no homem, como inteligência, honestidade, bom humor do que a mera aparência física.
Mas se não é agradável para uma pessoa ser rejeitada exclusivamente em razão da sua deficiência, o reverso da medalha, ou seja, ser escolhida por possuir um defeito, também pode ser aterrador.
Fazer de conta que a deficiência não existe é outra atitude que, longe de ajudar, pode atrapalhar.
Quando tratamos um deficiente como se ele não o fosse estamos desrespeitando suas limitações. Se não é justo superestimar suas dificuldades, também não é correto subestimá-las. Tratar igualmente os desiguais não significa necessariamente fazer justiça. A deficiência, em si, não é ruim nem boa – trata-se apenas de aprender o melhor modo de conviver com ela. Nesse aprendizado, ingredientes como acreditar em si mesmo, olhar o mundo de frente ver as pessoas em sua dimensão verdadeira e ir à luta sem medo são absolutamente essenciais.
Fonte: Bengala Legal

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