Deficiências em projetos prejudicam locomoção


Deficiências em projetos prejudicam locomoção

 


EMPECILHOS
 Na Avenida Balduíno Taques não existem rampas de acesso às calçadas, obrigando a circulação de cadeiras de rodas nas ruas
A acessibilidade melhorou muito em Ponta Grossa. Esta é a constatação de engenheiros, especialistas e portadores de necessidades especiais. Calçadas com rampas de acesso, pisos especiais para facilitar locomoção de deficientes visuais, ônibus adaptados. Porém, ainda há algumas falhas que precisam ser corrigidas e outros aspectos que necessitam evoluir com urgência.  Os principais problemas constatados são falta de semáforos sonoros e de rampas na Rua Balduíno Taques, onde o fluxo de cadeirantes é expressivo.
O professor Joel Larocca Neto decidiu mostrar aos alunos na prática as dificuldades enfrentadas por cadeirantes e portadores de deficiência visual e auditiva. Os alunos percorriam as ruas do centro da cidade com olhos vendados e utilizando tapa-ouvido com intuito de perceber as necessidades de adaptação e os motivos para o cumprimento das normas de acessibilidade. “Já realizo a atividade há três anos, mas precisei parar de utilizar tapa-ouvido porque era muito arriscado”, diz. Segundo ele, a cidade não possui nenhum indicador sonoro que possa guiar os deficientes auditivos. “Isso é uma necessidade urgente para Ponta Grossa. Pessoas com esta necessidade não podem se locomover sozinhos pela cidade devido ao alto risco de acidente”, avalia.
Para ele, os semáforos não proporcionam condições de travessia nem aos pedestres com visão. “Nosso trânsito ainda dá privilégios aos carros. É preciso educar nossos motoristas e pedestres a respeito de quem tem a preferência. Só assim conseguiremos melhorar as condições de acessibilidade”, fala. Outro problema relacionado ao trânsito é a falta de rampas e sinalização nas vagas de estacionamento reservadas aos portadores de necessidades especiais.
“Embora existam vagas reservadas, em muitos pontos não existe rampa para descida da cadeira impossibilitando que as pessoas saiam do carro”, aponta. Segundo Larocca, a cidade poderia ter de 70 a 75% de seus espaços acessíveis para todos os tipos de necessidades, inclusive necessidades temporárias motivadas por acidentes, lesões, cirurgias e até a idade. “O risco e as dificuldades não são apenas para a pessoa com deficiência. São para idosos, para mães com carrinhos de bebê, para pessoas que utilizam temporariamente muletas, bengalas e até cadeira de rodas”, diz. Na visão de Larocca, as vias adaptadas da cidade ainda precisam de pequenos ajustes, como piso de alerta em torno de orelhões e lixeiras para evitar choques.
Juan Campesi, que é cadeirante, comenta que, embora o relevo da cidade não colabore com a acessibilidade, ainda existem muitos pontos no centro da cidade que não possibilitam a locomoção de cadeirantes. “A Balduíno Taques é um exemplo. No trecho entre o Cemitério Municipal São José e o Shopping Mitaí não há rampas de acesso às calçadas, obrigando-nos a utilizar a rua”, fala. Para ele, isso acaba gerando aborrecimento nos motoristas e principalmente risco à vida das pessoas que dependem da cadeira de rodas para se locomover. Outro ponto problemático apontado por Campesi é o acesso ao Ginásio de Esportes para Portadores de Necessidades Especiais. “O ginásio é ótimo e atende todos os requisitos, mas para chegar até lá precisamos dividir espaço com os carros. Não há acesso pelo Parque Ambiental”, aponta.
Deficiência visual
Silmara Buss de Oliveira, diretora da Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Visuais (Apadevi), considera que as adaptações e melhorias realizadas na cidade são muito positivas, mas, segundo ela, estão muito centralizadas. “Se você sair da região central se depara com a falta de acessibilidade”, aponta. Ela concorda que faltam semáforos sonoros na cidade que permitam ao deficiente visual atravessar a rua sem depender de auxílio. A falta de placas em braile também dificulta a localização de pessoas cegas, que precisam se orientar apenas por pontos de referência previamente determinados. “Quando um ponto de referência deste muda, por exemplo, a pessoa com deficiência visual precisa passar por um novo processo de aprendizado para memorizar o caminho e buscar novas formas de orientação”, explica.
A reportagem do Diário dos Campos tentou contato com o secretário municipal de Planejamento, José Ribamar Krüger, para comentar o assunto, mas, por motivo de agenda, não foi encontrado.
Terminais de ônibus descumprem normas da ABNT

TRANSPORTE 
Para pegar ônibus, deficientes visuais dependem de auxílio de terceiros
Um estudo desenvolvido pelo vereador Julio Küller nos terminais de ônibus da cidade apontou que várias normas de acessibilidade não são cumpridas nestes espaços, dificultando a locomoção e até a localização dos portadores de necessidades especiais.
Segundo o vereador, um dos problemas constatados é a falta de placas indicativas em braile nos pontos de ônibus. “Essa dificuldade limita a independência do deficiente visual, que depende da informação de terceiros para saber qual é o ônibus que deve tomar”, fala. No terminal de Uvaranas, Küller comenta que a pista tátil leva à rua, podendo ocasionar acidentes. “Parecem pequenas coisas, mas que fazem muita diferença para quem depende delas”, aponta.
Para ele, campanhas de conscientização deveriam ser realizadas na cidade para que as pessoas compreendessem melhor as necessidades de cadeirantes e de portadores de outras necessidades especiais. “Só assim conseguiríamos cumprir todas as exigências. Não só por ser lei, mas por respeito ao próximo”, diz.
O secretário municipal de Planejamento não foi encontrado para comentar o assunto.
Aspectos positivos da revitalização merecem destaque

ADAPTAÇÃO
 As mudanças na Avenida Vicente Machado facilitaram o deslocamento e a acessibilidade
Nem tudo está ruim na cidade em relação à acessibilidade. Há muitas iniciativas que merecem ser destacadas por, mais do que cumprir as normas, possibilitam a locomoção segura de portadores de necessidades especiais.
Joel Larocca Neto destaca a preocupação de escolas, hospitais, empresas e órgãos públicos em se adaptar e facilitar o acesso ao maior número de pessoas. Segundo ele, uma das obras que merece destaque e elogio é a passagem da Praça Barão do Rio Branco. “É uma alternativa fantástico que faz com que o pedestre passe a rua no mesmo nível e o carro precise subir. Além de facilitar a passagem, diminui a velocidade dos carros”, aponta. Para ele, deveriam existir mais passagens elevadas pela cidade. “Com certeza esta medida é uma das mais indicadas para nossa cidade, que possui um relevo tão peculiar. Os responsáveis poderiam tomá-la como exemplo e desenvolver um projeto de implantação para outros locais da cidade”, diz.
Lojas e supermercados também têm buscado se adaptar ao novo consumidor potencial. Igrejas também estão criando alternativas de acesso através de rampas. Alguns supermercados da cidade já oferecem serviço especial aos portadores de deficiência visual.  “Eles chegam ao mercado e procuram um atendente que os leva até o corredor dos produtos que deseja e passa as informações necessárias, como preço, marca, prazo de validade. É uma medida que, embora ainda pouco utilizada, tem facilitado a vida destas pessoas que podem fazer suas compras sozinhas”, aponta Silmara Buss de Oliveira, da Apadevi.
Mercado oferece poucas oportunidades a cadeirantes
Além de aspectos estruturais e físicos, os portadores de necessidades especiais enfrentam ainda outra barreira, falta de oportunidade no mercado de trabalho. Marcos Aurélio Soares, da Associação de Deficientes Físicos de Ponta Grossa (ADFPG), explica que muitas empresas não contratam cadeirantes devido à necessidade de adaptação de todos os espaços da empresa. “Acaba gerando um custo elevado para a empresa que nem todo empresário está disposto a pagar e até a mudar toda a estrutura da empresa”, fala.
Segundo ele, há vagas sobrando em diversos segmentos porque faltam pessoas qualificadas. “Nossa entidade tem buscado desenvolver essas pessoas para o mercado de trabalho, mas também depende do apoio e da aceitação dos empresários”, fala. Para ele, os portadores de necessidades especiais querem ser valorizados pela função que desempenham nas empresas, pelo trabalho que realizam. “Buscamos desempenhar nosso trabalho como qualquer outro colaborador. Não queremos a vaga apenas porque é obrigação legal. O deficiente precisa se sentir útil e não discriminado”, fala. O principal fator para a falta de qualificação é o medo de perder a segurança que benefícios e aposentadorias possibilitam.


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