REPORTAGENS ESPECIAL DO JORNAL NACIONAL CÉLULAS TRONCOS




Edição do dia 19/01/2013
19/01/2013 21h36 - Atualizado em 21/01/2013 14h43

Células-tronco ajudam a combater tipo perigoso de diabetes

Pacientes que se submetem ao tratamento experimental chegam a ficar sete anos sem usar insulina.

Nesta semana, o Jornal Nacional está exibindo uma série especial de reportagens sobre pesquisas brasileiras com células-tronco. Neste sábado (19), a repórter Sandra Passarinho apresentou alguns resultados de tratamentos experimentais para pessoas com diabetes.

Na infância e na juventude, quando a gente começa a descobrir os sabores da vida, é que a diabetes tipo 1 costuma se manifestar.
“O prazer do ser humano é a comida. Tirar da pessoa o prazer de comer é ruim”, comenta o administrador de empresas Miguel Bretas.
Miguel Bretas e o biomédico Rodrigo Ribeiro da Silva iam passar a vida tomando várias doses de insulina todo dia. Eles preferiram se oferecer para participar de um estudo pioneiro.
“A possibilidade de tentar resolver um problema foi maior do que qualquer medo que eu tinha”, conta Rodrigo.
A opção era um teste com células-tronco para diabetes 1, o tipo mais perigoso da doença, em que as células de defesa do corpo agridem o pâncreas, onde é fabricada a insulina. Este hormônio é essencial porque faz o corpo usar o açúcar que comemos para gerar energia.
O primeiro teste no mundo com células-tronco para diabetes tipo 1 foi realizado em Ribeirão Preto em 2003. Os pacientes recebem acompanhamento até hoje.
No Hospital das Clínicas da USP de Ribeirão Preto o combate ao  diabetes começa com uma operação de segurança: o paciente fica isolado em uma unidade especial. Antes do isolamento, o sistema imunológico dele é zerado por uma quimioterapia. Depois que o sistema de defesa do corpo é desligado, o paciente recebe uma aplicação na veia de células-tronco tiradas do seu próprio sangue. Elas vão formar a nova tropa de defesa do corpo.
“A célula-tronco que usamos vem para regenerar um novo sistema imunológico, que a gente quer que seja livre de vícios e que esse novo sistema imunológico não agrida o pâncreas do próprio paciente”, esclarece o médico Carlos Eduardo Couri.
A terapia é  um desafio para pacientes e médicos. “Como oferecer para ele um procedimento com quimioterapia para uma doença que não é câncer?”, questiona Belinda Simões, coordenadora da pesquisa no Hospital das Clínicas da USP de Ribeirão Preto.
“É um ataque grande. Eu tive todos os efeitos colaterais: perdi cabelo, perdi peso. Mas hoje, fazendo uma síntese de tudo que aconteceu, valeu a pena”, afirma Miguel Bretas.
A maioria dos 25 voluntários que participaram do teste ficou vários anos sem tomar qualquer remédio.
“Para um diabético tipo 1, ficar seis anos sem tomar nenhuma medicação nem insulina é inédito na pesquisa”, comenta Rodrigo Ribeiro da Silva.
O estudante de medicina Renato Luís Silveira teve um dos melhores resultados do estudo: sete anos sem tomar insulina. “Se eu tiver algum problema no futuro, acho que vai ser menos do que em uma pessoa que nunca fez tratamento”, comenta.
O estudante ainda controla a alimentação, mas se  permite alguns prazeres. “Eu deixo para comer doces no fim de semana”, conta.
“Mesmo que não usemos o termo cura, deixá-lo com nenhuma insulina ou pouca insulina, uma alimentação saudável e atividade física regular já é um grande avanço”, ressalta o médico Carlos Eduardo Couri.
“O desafio neste momento é saber por que um continua oito anos livre de insulina e o outros só ficou dois anos livre de insulina”, diz Belinda Simões.
O segundo teste já começou e deverá envolver ao todo 50 ou 60 voluntários e quatro equipes de pesquisadores em Ribeirão Preto, Chicago, nos Estados Unidos, Paris e em Sheffield, na Inglaterra.
“Normalmente, o Brasil importa pesquisas. Nós somos bons executores de pesquisa e, desta vez, estamos criando para exportar conhecimento”, finaliza Carlos Eduardo Couri.
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Implante de célula-tronco melhora vida de pacientes com lesões na coluna

Na segunda reportagem da série especial sobre pesquisas com células-tronco, o JN mostra experiências brasileiras no tratamento de fraturas e de lesões na coluna.

Na segunda reportagem da série especial sobre pesquisas com células-tronco, Sandra Passarinho mostra experiências brasileiras no tratamento de fraturas e de lesões na coluna.
O que une estas pessoas? “O que a gente deseja é andar”, diz uma cadeirante.
Dirigir já é uma conquista para Rejane e para o major da Polícia Militar, Mauricio Ribeiro.
O médico Thadeu Carlos Mozella voltou a caminhar sem sentir dores. “Com dois, três meses, larguei a muleta, subia escada, me sentava normalmente”, lembra.
A vida deles melhorou depois que receberam implantes de células-tronco adultas em partes do corpo lesadas por acidentes. Thadeu bateu com o carro há três anos e fraturou o fêmur. Oito meses depois, ainda não estava curado. Por isso, entrou para um grupo de 20 voluntários em uma pesquisa do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia.
Os cientistas querem entender como as células-tronco agem para regenerar ossos. Um dos objetivos é desenvolver terapias para tratar fraturas não consolidadas nos chamados ossos longos, tíbia e fêmur, nas pernas, e na parte superior do braço, o úmero.
O doutor João Matheus Guimarães explica que a fratura de Thadeu não colou com o tratamento convencional. A opção foi retirar células-tronco da medula e injetá-las na área lesada para estimular a formação do calo ósseo, que é o início do processo de calcificação de uma fratura. O resultado da experiência aparece nas radiografias, no antes e no depois.
“Vê-se nitidamente a falta do calo ósseo nessa região. Isso gerava dor, incapacidade. Por isso nós utilizamos a técnica de infiltração de células-tronco do próprio paciente. A gente tem aqui a evolução satisfatória do caso. Depois de três meses, a formação do calo”, mostra o médico.
Os estudos para devolver os movimentos do corpo avançam também em outras regiões do país. Um centro em Salvador desenvolve pesquisas que não prometem a cura, mas os resultados de um primeiro teste já mostram que é possível melhorar a condição de vida de pacientes sem mobilidade.
“Não nasci na cadeira de rodas. Me acidentei e estou na cadeira de rodas, e busco uma melhora”, afirma Mauricio.
Em 2011, Mauricio passou por um transplante de células-tronco como voluntário. Quando acontece um trauma grave na coluna, os impulsos enviados pelo cérebro não conseguem chegar aos músculos, e o movimento do corpo fica comprometido. A injeção das células-tronco, extraídas da medula óssea do paciente, pretende devolver os movimentos.
“Nada de cintura para baixo. Nada. Hoje sinto tudo, até os pés. Identifico calor, identifico frio. É ganho”, comemora Mauricio.
Outros pacientes também tiveram ganhos com o teste. Rejane voltou a ter sensibilidade nas costas antes mesmo de receber alta. É um progresso a cada dia.
“Célula-tronco é uma terapia que está se iniciando, mas a gente ainda está buscando qual a melhor célula, quantas vezes essa célula tem que ser injetada no paciente, e durante quanto tempo ela vai ter efeito”, ressalta Ricardo Ribeiro dos Santos, coordenador da pesquisa.
O início de um longo percurso que já mostra resultados. Mauricio consegue caminhar com a ajuda de um andador, mas só durante a fisioterapia.
“Mesmo que eu não saia da cadeira, o pontapé inicial foi dado”, reflete. “Daqui para frente vai ter evolução.”
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Pesquisas com células-tronco para tratar o coração avançam no Brasil

Ao todo, 600 voluntários já participaram de um teste clínico considerado um dos maiores do mundo. A pesquisa envolve médicos e cientistas de 40 instituições do país.

O Jornal Nacional vai exibir, a partir desta quinta-feira (17), uma série de reportagens especiais sobre um setor da pesquisa científica que o mundo todo acompanha com atenção, e cheio de esperanças: as terapias experimentais com células-tronco que já estão sendo aplicadas em pessoas. O assunto de hoje é o tratamento de pacientes com problemas cardíacos.
Quem vê o aposentado Valter Lemos Filho bem disposto, não imagina como a saúde dele estava frágil. “Foram quatro enfartes”, conta ele.
Em 2010, ele apostou em um tratamento com células-tronco. Entre tantos avanços da medicina, o início do século XX foi marcado pela primeira vacinação em massa no Brasil. Depois, surgiram os antibióticos, com o uso em larga escala de remédios que salvaram milhões de vidas, e os transplantes viraram rotina nos anos 1980. No século XXI, a ciência avança nas pesquisas com células-tronco, a promessa da medicina regenerativa de usar um remédio que está dentro de nós.
O coração é um dos principais campos de estudo no Brasil. Uma novidade para o despachante aduaneiro Rosno Julião. “Estou otimista. Se não fizer bem, mal não vai fazer”, reflete ele.
A maca trazendo seu Julião surge no corredor. Ele participa de um teste clínico para casos de isquemia crônica, quando o coração não consegue receber o oxigênio necessário para funcionar bem. Há também testes para três outros tipos de insuficiência cardíaca. No caso do seu Julião, células-tronco adultas foram retiradas da medula óssea dele antes de uma cirurgia de revascularização para melhorar a circulação do sangue. Em seguida, as células-tronco foram levadas para um laboratório no Instituto de Cardiologia do Rio.
O processo do material retirado da medula óssea do paciente é sigiloso, e só o profissional que vai fazer esse trabalho é que na verdade sabe se o paciente vai receber implante de células-tronco mesmo ou um líquido, que é um placebo. A escolha é feita por sorteio, e o paciente não sabe o que vai receber.
"É o melhor padrão. Padrão ouro de um estudo que vise testar a eficácia de uma nova terapia", diz Antonio Carlos Campos de Carvalho, coordenador da pesquisa do Instituto Nacional de Cardiologia.
As células-tronco adultas foram, então, injetadas no coração do paciente. A expectativa é que elas possam restaurar a função cardíaca.
“Aquela área do coração que não tem como revascularizar, a gente procura injetar células-tronco na esperança que aquelas células-tronco se diferenciem em células do coração”, explica o cirurgião cardiovascular José Oscar Brito.
Ao todo, 600 voluntários já participaram desse teste clínico, considerado um dos maiores do mundo. A pesquisa envolve médicos e cientistas de 40 instituições do país.
“Seria a terapia ideal para um sistema público de saúde, porque você consegue processar essas células a baixo custo”, acrescenta Antonio Carlos Campos de Carvalho.
Imagens feitas durante uma pesquisa do Instituto do Coração, em São Paulo, mostram o caso de um paciente que melhorou: seis meses depois da cirurgia de revascularização e do implante com células-tronco, o coração ficou revigorado e batendo mais forte.
Seu Valter, como vimos no início da reportagem, voltou a ser ativo. “Meu coração está bom. Me abaixo, levanto, carrego alguma coisa, não altera nada”, comemora.
Os médicos ainda não prometem cura, mas o exemplo desse homem mostrou que a terapia tinha futuro: Nelson Águia estava desenganado quando recebeu, em 2001, a primeira aplicação no mundo de  células-tronco no coração. A lesão foi reduzida em quase 100%, e assim o paciente chegou aos 80 anos.
“Eu fiz com a maior satisfação, e com isso já estou aí há cerca de 12 anos”, contou ele em sua última entrevista. Ele morreu em setembro e deixou de herança um caminho que pode levar outros pacientes tão longe ou mais até do que ele foi.

FONTE: JN
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