Cadeirantes fazem protesto inusitado na Câmara Municipal de Parauapebas

Eles sugeriram aos vereadores usar a cadeira de rodas dentro do prédio.
"Nos deram uma lição", afirmou o presidente da Câmara.

Um grupo de cadeirantes de Parauapebas, sudeste do estado, realizou um protesto diferente para chamar a atenção das autoridades a respeito da falta de acessibilidade no município. Eles foram até a Câmara Municipal e desafiaram os vereadores a andar de cadeira de rodas dentro do prédio.

Durante a sessão da Câmara na última terça-feira (24), os cadeirantes sugeriram aos parlamentares que andassem de cadeira de rodas da plenária até a mesa diretora. A falta de acessibilidade dentro do prédio foi logo percebida pelos parlamentares.

Presidente da Câmara Municipal de Parauapebas,
Josineto Feitosa, tenta subir a rampa
(Foto: Reprodução / TV Liberal)

Alguns vereadores mal conseguiram sair do lugar por causa dos obstáculos. O presidente da casa, Josineto Feitosa, só conseguiu subir a rampa que dá acesso a mesa diretora na terceira tentativa. "[A experiência] nos deu uma lição. Mas uma lição de que nós, como agentes públicos, temos a responsabilidade de enxergar bem além do que nós pensamos e acreditamos que sabemos", afirmou.

"A gente não quer ser olhado como inútil, como deficiente, como diferente. Ninguém é diferente", argumentou o músico Geová Rodrigues, que é cadeirante há 6 anos. A mudança radical na vida do músico se deu após um acidente com arma de fogo. Depois disso, todos os dias ele precisa enfrentar uma série de dificuldades para se locomover pelas ruas de Parauapebas. "[A cidade] não está pronta para um cadeirante, não está pronta para um [deficiente] auditivo ou visual, não está pronta para nenhum tipo de deficiência", diz o músico.

O músico Geová Rodrigues, cadeirante há 6 anos,
enfrenta dificuldades para transitar pelas ruas de
Parauapebas (Foto: Reprodução / TV Liberal)

A equipe de reportagem da TV Liberal em Parauapebas acompanhou Geová num percurso por duas ruas bem movimentadas da cidade. Na primeira via, o desnível das calçadas é o primeiro obstáculo, que exige habilidade do cadeirante para se manter na cadeira de rodas. Mais a frente, um poste instalado no meio da calçada impedia a passagem.

Em uma das esquinas até existia uma rampa de acesso às ruas, mas depois de descer por ela e atravessar a rua, Geová precisou se arriscar entre os carros porque do outro lado não existe rampa de acesso, e a calçada está ocupada por um  carregamento de areia.

A outra rua percorrida já estaria toda adaptada para cadeirantes. Porém, na primeira esquina, Geová teve dificuldades para passar da calçada para o meio fio, e precisou de ajuda. "Pode até haver uma boa vontade de 'acessibilizar', mas o nosso direito de ir e vir aqui ainda não está 100%", concluiu o músico.

A Prefeitura de Parauapebas, através da Secretaria Municipal de Urbanismo, informou que tem conhecimento dos problemas apresentados na reportagem, e que já há projetos para garantir a acessibilidade nestas e em outras áreas da cidade, mas as obras só devem começar a partir do ano que vem. Já a presidência da Câmara Municipal de Parauapebas informou que vai estudar as adaptações no prédio.

Fonte: G1 PA