Portadores de necessidades reclamam da falta de respeito


Há alguns anos, quem era portador de necessidades especiais sofria com diversos problemas em Belém, como a falta de planejamento na estrutura das cidades, e principalmente, a falta de bom senso da população. Décadas depois, com várias leis em vigor que beneficiam os deficientes, ainda falta fiscalização por parte dos órgãos competentes. O caso de agressão ao paraatleta Rayfran Pontes, em Canaã dos Carajás, chocou e reacendeu a discussão sobre o preconceito contra os portadores de necessidades especiais.

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A maior dificuldade relata pelos PNEs é a locomoção pela cidade. No transporte público, José Alexandre de Souza Conceição, de 37 anos e cadeirante, acredita que os motoristas dos ônibus ainda não foram realmente capacitados para lidar com a máquina que auxilia na subida do usuários de cadeira de rodas. 'Os motoristas e cobradores levam muito tempo para conseguir colocar um cadeirante dentro do ônibus. Às vezes, com a falta de paciência do motorista, eles nem mesmo param quando fazemos sinal na parada, o que é uma grande falta de respeito com a gente', reclama.

Alexandre se tornou cadeirante após tentar ajudar uma vizinha que estava sendo assaltada. 'Eu segurei o ladrão, só que de alguma forma ele conseguiu escapar, e quando veio pra cima de mim, estava com uma perna-manca na mão, deu dois golpes na minha costa. Depois disso tudo apagou. Fiquei seis meses internado no hospital', lembra. Depois do ataque do bandido, ele precisou se aposentar e frequenta a APPD (Associação Paraense dos Portadores de Deficiência) há mais de dez anos.

Apesar do ato heróico, a falta de respeito e de acessibilidade virou rotina na sua vida. 'Coisa simples pra uma pessoal normal é muito complicada pra gente. Por exemplo, imagina como um cadeirante faz para experimentar uma roupa na loja, é muito complicado. Agora, o pior problema é andar em Belém. Quase ninguém nos respeita', argumenta Alexandre.

Com o passar dos anos, muita coisa mudou na teoria: foram criadas leis para proteger os direitos da população portadora de deficiência. Em Belém, a Prefeitura reformou a maioria das calçadas para que os portadores tenham acessibilidade. Entretanto, ainda falta uma mudança na consciência da população que não possui nenhum tipo de necessidade especial. 'O povo não respeita. Comerciantes colocam cadeiras e mesas em cima das calçadas, que não só dificulta a vida das pessoas 'normais', mas principalmente dos deficientes, que são obrigados a andar no meio da rua, e isso quando conseguem', reclama a deputada estadual, Regina Barata, militante na proteção dos diretos dos portadores de deficiência.


Outra reclamação é sobre a situação de algumas calçadas, principalmente em Icoaraci, onde reside o deficiente visual, Jordecir Santa Brígida, 49 anos. Segundo ele, ainda há muitos buracos e bueiros sem tampa, o que é um perigo. Mas ainda pior que isso é a atitude de alguns motoristas. 'Eu moro na Rua Oito de Maio e, às vezes, acontece do motorista dos ônibus passarem por cima da calçada. O mais triste é que por conta disso nos corremos risco de perder a vida pela falta de compreensão. As pessoas tem que mudar essa mentalidade', apela Jordecir.

A lei 7.853, que protege os direitos dos PNEs, foi criada em 24 de outubro de 1989, mas ainda há muitos portadores que desconhecem seus direitos, o que dificulta ainda mais no dia-a-dia dessas pessoas. 'Sofremos desrespeito dos mais variados tipos, entretanto, eu conheço os meus direitos e sei o que posso fazer para não se agredido moralmente. São as leis que me protegem de atos fúteis da população. O problema é que ainda há deficientes sem esse conhecimento', explica o diretor do Setor de Desportiva e Lazer da APPD, Mauro Luis Cantuária da Costa, de 49 anos.

Para os PNE's, pior do que o desrespeito da população é o ato tendencioso de pessoas que deveriam fiscalizar os carros estacionados em cima das calçadas. Alexandre conta o que ouviu de um guarda da CTBel (Companhia de Trânsito de Belém) após passar pela Curuzu em dia de jogo. 'Havia um carro atrapalhando a minha descida da calçada. Como havia um agente de transito próximo, pedi que ele fizesse alguma coisa. Ele teve a maldade de dizer 'te vira, você não é caranguejo', e foi embora', disse revoltado o cadeirante.



Em meio a tantos problemas, os portadores de necessidades especiais pedem apenas para serem reconhecidos com pessoas guerreiras que são, que as dificuldades sejam apenas obstáculos que podem ser facilmente ultrapassados com a cooperação da população e dos órgãos competentes. 'Respeito! Somos como qualquer um, só falta as pessoas perceberem isso', finaliza Alexandre.

Fonte: Pertal ORM

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