Rocke In Rio sem Acessibilidade



Caros leitores. Vejam abaixo o relato de duas pessoas, sendo uma delas com deficiência, o quanto ao organização do Rocke In Rio não se preocupou em atender as Pessoas com Deficiência, que queria ter assistido ao Show.  

Veja primeiro o relato de Lu Jordão e em seguida o de Deborah. Leia atentamente, por gentileza.
Dia 23/09, estava no escritório trabalhando (nas imediações do Rock in Rio) percebendo todo o clima de festa na cidade e preocupadíssima com meu deslocamento para casa… Isso! Não curto tumulto! Meu celular toca e era minha querida amiga Deborah Prates, usuária de cão guia, pedindo-me auxílio em informações pouco ou nada claras para acessar o Rock in Rio! Vinha com a filha de 17 anos curtir o maior evento musical da cidade maravilhosa. Neste dia, teve a informação de que o seu táxi a deixaria bem distante do evento…
Pesquiso pra cá, site do evento, e-mail para a organização querendo saber se havia alguma orientação especial para que Deborah pudesse acessar o evento com tranqüilidade. Nenhuma resposta! No site, informações imprecisas… Conversei com Deborah por telefone que me afirmou: “Lu, vou no peito e na raça! Depois te relato como foi… Mas, um evento desse porte, certamente vai prezar por acessibilidade!”
Infelizmente Deborah comprovou o contrário – falta de acessibilidade, falta de respeito, de preparo, de conhecimento, de calor humano! Segue relato que me conquista pela ausência de rancor… Um relato cercado de bom humor de uma pessoa que vive intensamente, que é feliz e que “coloca a boca no trombone” por um mundo melhor! Recebi nesta manhã e decidi compartilhar com o maior número de pessoas possível!
Sabem o que mais me surpreendeu? Minha conversa de 37 minutos com Deborah me descrevendo como se divertiu no show, o que mais gostou, o melhor espetáculo do dia e sua realização por ter participado com a filha adolescente de seu primeiro Rock in Rio… Eu, de minha zona de conforto e longe da multidão, senti o evento através do relato de Deborah Prates… Eu vendo da TV e ela ao vivo… Trocamos impressões, opiniões, sentimentos sobre o evento.
Porém, entendo que não se pode deixar este desrespeito com o próximo passar desapercebido.
Sendo assim recorro a esta rede tão especial de amigos para apresentar o relato de Deborah Prates. Caso achem viável, solicito que divulguem. Estarei publicando em meus dois blogs de moda! Será publicado também no blog da Deborah, com endereço ao final do texto.
Esse é um lado do Rock in Rio, que se não for através de nós, jamais será conhecido!!
POR UM MUNDO “PIOR” PARA TODOS!
Por Deborah Prates
Coração batendo a mil na manhã do dia 23/9, ainda mais com a previsão de tempo chuvoso no 1º dia do ROCK IN RIO. Uma honra curtir com minha filhota de 17 anos esse momento que, há tempos atrás, tinha experimentado. Como cega tratei logo de conferir a acessibilidade para que tudo continuasse encantador. Então, foi que tremi nas bases com o que percebi que iríamos enfrentar. O clima mudou para o de enduro. Com base na nossa legislação – ante a dificuldade/irregularidade do terreno – foi que tentamos com vários taxistas chegar ao portão do evento. Os guardas locais disseram NÃO em quaisquer hipóteses. Desumano, já que o terreno é totalmente irregular para qualquer deficiência. Fingem desconhecer os Organizadores a lição do filósofo Aristóteles que sugere sejam tratados os desiguais na medida de suas desigualdades. Até o 1º portão tivemos que andar 1,5 km. Sozinha não conseguiria. Pesquisamos no site e ficamos felizes com a existência de um portão especial. Remetia ao último portão do lado esquerdo extremo, tomando-se a entrada principal da Cidade do Rock. Como saber qual o último portão? Um cego jamais o encontraria! Ao encontrar o portão principal, perguntamos pelo especial. Claro que eu poderia entrar pelo principal, mas quis o meu! Nem os seguranças – com rádio – souberam informar. Diziam: “ACHO que fica lá na frente! Vocês vão andando que, certamente, é para lá”! Perguntei se havia alguém para caminhar com o deficiente até o local. Óbvio que não! O fluxo das pessoas terminou no principal, onde todos entraram. Daí por diante fomos na sorte. Loucura! Quase desistindo, um novo preposto disse ser “PASSANDO AQUELE VIADUTO”! Que alegria! Ao entregarmos os ingressos indagamos pelo banheiro mais próximo. Ouvimos: “NEM IMAGINO! ACHO QUE É ALI DEBAIXO DA RODA GIGANTE”! Minha filha foi quem avistou um químico. O local para lavar as mãos era fora e com um bom degrau. Naquela pia não havia rampa. Talvez em outras! Ainda com fôlego tentamos chegar ao local destinado aos CADEIRANTES, dando direito a um acompanhante. Absurdo! Será que os outros segmentos não tinham igual direito?
Como cega também quis achar esse paraíso! Mais de dez prepostos não souberam encontrar o setor. Até nos estandes perguntamos e as respostas pareciam combinadas: “VAMOS CHAMAR UM PROMOTOR DO EVENTO”. Desistíamos de esperar. E a festa rolava. Novamente tivemos que vestir a fantasia de “BOBOS DA CORTE”! Um BOMBEIRO informou que estava no evento desde a sua CONSTRUÇÃO e desconhecia esses locais. Aduziu que vários cadeirantes e deficientes já haviam lhe feito a mesma pergunta. Constrangido, disse que FISICAMENTE esses locais não existiam. MUITO GRAVE A INFORMAÇÃO! As toneladas de som ecoavam. A galera cantava!  Para minimizar os acidentes geográficos do terreno, rampas revestidas com grama artificial foram feitas sem o menor critério de acessibilidade. Sim. De qualquer maneira! “EEE, VIDA DE GADO… POVO MARCADO. POVO FELIZ”! Algumas permitiam acesso aos cadeirantes, outras nem mesmo para os cegos com suas bengalas! Propaganda feia e enganosa dos DRS. Organizadores! Constatamos total falta de acessibilidade física, de informação/comunicação e atitudinal. Falso é o slogan: “POR UM MUNDO MELHOR PARA TODOS”. Ao invés de alardearem plantio de árvores, deveriam os organizadores REFLORESTAR OS PRÓPRIOS CÉREBROS! Dever-se-ia investir na “SUSTENTABILIDADE HUMANA”! Bem, no tom: “ME ENGANA QUE EU GOSTO”, mais consistente para o Planeta seria repetirmos oantônimo da proposta, qual seja: POR UM MUNDO “PIOR” PARA TODOS! QUERO MEU CÉREBRO VERDE!
Carinhosamente,
DEBORAH PRATES – (Advogada, usuária de cão guia, Delegada da CDPD/OAB/RJ)
No twitter: @deborah_jimmy

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