Distância e burocracia desestimulam deficientes a buscar adaptação do carro e habilitação



Entre os guarapuavanos, 350 portadores de deficiência possuem restrições na habilitação com relação a adaptações veiculares. Mas, diante das dificuldades, outros optam pela clandestinidade, dirigindo sem a devida autorização e adaptação




Harald Essert    
Vercy conta com restrições na sua carteira de habilitação, e possui um carro automático adaptado para sua direção (Foto: Harald Essert/ Diário)

“Dirigir é uma tarefa simples. Para alguns deficientes físicos, é mais fácil do que trocar de roupa, por exemplo”. O apontamento é do chefe do setor de medicina do Detran-PR, Dirceu Silveira Junior. Ele esclareceu que, para um portador de deficiência ter autorização para dirigir, basta passar por uma avaliação médica, que determina o tipo de adaptação necessária, e então fazer a restrição constar na carteira de habilitação, além de adaptar seu carro conforme o julgamento do médico. Pessoas que ainda não possuem carteira devem fazer a autoescola em carro adaptado.
Parece fácil, mas para quem mora no interior do Estado, não é. A maioria dos procedimentos de avaliação é feita apenas em Curitiba, obrigando os aspirantes a motorista a viajar para a capital em boa parte do trâmite. Além disso, nenhuma autoescola de Guarapuava possui veículo adaptado. Com isso, a necessidade de deslocamento e o excesso de burocracia fazem com que relativamente poucos deficientes físicos tenham carteira e veículo adaptado no município – e alguns apelem para a clandestinidade.
Segundo o Detran, em Guarapuava há 350 condutores com restrição na carteira de habilitação, no que diz respeito às adaptações veiculares. Segundo o Censo Demográfico 2010, há 11.355 pessoas com deficiências motoras no município, o que significa que apenas 3% delas obtiveram a habilitação especial.
Essa proporção é levemente maior do que a média do Estado (de 2,8%, com 24 mil condutores entre 850 mil deficientes físicos), mas é bem inferior às das cidades da região metropolitana. Em Curitiba, a parcela é quase o dobro da guarapuavana, com 5,9% (quase 7 mil condutores). O Detran não possui estatísticas sobre o número de veículos adaptados.
Habilitação
O primeiro passo, quando um deficiente físico pretende tirar a carteira de motorista, é ir ao Detran em Curitiba, onde um médico avalia, de acordo com o tipo de deficiência, qual é a capacidade de dirigir e quais adaptações serão necessárias. Um motorista sem o movimento das pernas, por exemplo, precisa de uma alavanca perto do volante que lhe dá o controle dos pedais do freio e do acelerador com a mão. O carro deve ter transmissão automática e direção hidráulica.
Após esse laudo, o cidadão pode procurar uma autoescola para iniciar o processo de formação. Mas um deficiente físico guarapuavano, quando quer tirar a carteira de motorista, pode esquecer as opções do município – nenhuma possui carro adaptado. Nesse caso, é preciso também fazer as aulas de direção em Curitiba.
Uma alternativa (que não é viável para todos) é conseguir emprestado um carro que tenha exatamente as adaptações necessárias, e então fazer o curso em uma autoescola da cidade. Foi o que fez José Acir da Luz, presidente do conselho fiscal da ADFG (Associação dos Deficientes Físicos de Guarapuava).
“Um amigo que tem carro adaptado me emprestou para eu fazer as aulas de direção. Eu só pagava a gasolina para ele. Mas nem todo mundo tem essa opção”, destacou. A desvantagem, segundo ele, é que o curso custou mais caro do que para uma pessoa sem deficiência. “Eu tive que pagar o curso normal. Não teve desconto por eu não usar o carro da autoescola, e ainda tive que pagar o combustível do carro do meu amigo. Então é injusto”.
Segundo o médico do Detran Dirceu Silveira Junior, duas novas cidades passaram a ter clínicas credenciadas a realizar a avaliação médica de deficientes físicos: Cascavel, no Oeste, e Colorado, no Norte do Estado. “Com isso facilitou bastante, porque dependendo do lugar a pessoa consegue marcar o exame para a mesma semana. Antes, quando era só em Curitiba, tínhamos um tempo de espera muito grande, que chegava a três, quatro meses”, informou. De Guarapuava, a distância é praticamente igual para Curitiba e Cascavel – cerca de 250 km.
Fonte:
***Leia a matéria completa na versão impressa do Diário de Guarapuava desta quarta-feira, 11. 

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