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BA: cadeirante toma 1º banho de mar em 20 anos com projeto de inclusão Projeto ParaPraia oferece infraestrutura adequada e acompanhamento profissional para o banho de mar assistido de pessoas com deficiência




Luiz Augusto de Santana, 46 anos, ficou paraplégico aos 26 anos, e enste sábado tomou seu primeiro banho de mar em 20 anos Foto: Ana Carolina Araújo / Especial para Terra
Luiz Augusto de Santana, 46 anos, ficou paraplégico aos 26 anos, e enste sábado tomou seu primeiro banho de mar em 20 anos
Foto: Ana Carolina Araújo / Especial para Terra
  • Direto de Salvador
Desde a manhã deste sábado, a cidade de Salvador oferece aos deficientes físicos, especialmente cadeirantes, a possibilidade de afastarem o calor com um bom banho de mar. Não que algum dia ele tenha sido proibido, mas a falta de acessibilidade dificultava a tarefa. Agora, o projeto ParaPraia, da Secretaria Cidade Sustentável, oferece infraestrutura adequada e acompanhamento profissional para o banho de mar assistido.

A estrutura montada pelo projeto é grande e inclui pistas especiais para o acesso dos cadeirantes, tendas de preparação, cadeiras anfíbias, que facilitam o trajeto na areia e flutuam no mar. Já no primeiro dia, cerca de 30 deficientes se refrescaram na Praia de Ondina com a ajuda de fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, salva-vidas, educadores físicos e estudantes da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP).

De todos os banhistas do dia, o que trouxe a história mais emocionante foi o auxiliar administrativo Luiz Augusto de Santana, 46 anos. Ele ficou paraplégico aos 26 anos, depois de cair da laje da própria casa e sofrer uma lesão na coluna. Tinha acabado de conhecer a auxiliar de dentista Cleonice Santana, hoje sua esposa. Junto com a celebração dos 20 anos de casamento, veio o primeiro banho de mar depois do acidente. "Foi mágico. Foi como se eu tivesse reencontrado alguém que perdi há muito tempo, e que já não esperava achar", descreveu, com os olhos marejados.



Para a mulher, que acompanhou a luta do companheiro, também não faltou emoção. "Às vezes ele dizia que sentia saudade do mar e eu falava que ia dar um jeito, mas não tinha como. Não tenho quem me ajude a carregar. Fiquei muito realizada." Agora, Luiz Augusto quer criar um novo hábito. "Vou vir toda semana, ainda mais com esse calor. É uma delícia."

O mar é de graça, mas a chegada de um cadeirante até lá dá mais trabalho do que se imagina. Começa com o trajeto para a praia, como lembra a presidente da Associação Baiana de Deficientes Físicos (Abadef), Luíza Câmara. "São muito poucas as linhas de ônibus com acesso adequado para os cadeirantes, especialmente passando pela praia. Mas a prefeitura nova tem apenas um ano e essa já é uma iniciativa excelente. Vamos ter paciência."

Cadeiras anfíbias facilitam o trajeto na areia e flutuam no mar Foto: Ana Carolina Araújo / Especial para Terra
Cadeiras anfíbias facilitam o trajeto na areia e flutuam no mar
Foto: Ana Carolina Araújo / Especial para Terra
Já na praia, deficientes e familiares sofrem para chegar à areia, especialmente com cadeiras de roda. O acesso ao mar também é difícil, e em geral só acontece se houver quem carregue crianças e adultos até lá. É o caso do jovem Felipe Simões, 19 anos. Paraplégico, ele pratica natação em piscina desde a infância e consegue até ficar no mar sem ajuda. "Mas ser carregado é muito desconfortável, nem sempre há pessoas disponíveis, há muito empecilho", explica. Com a ajuda da cadeira anfíbia, ele tomou não um, mas dois longos banhos de mar na manhã deste sábado. Como qualquer adolescente, ele ouve dos pais cobranças sobre o filtro solar, mas não reclama. "Foi muito bom. Não dá vontade de sair da água."

Para a coordenadora do curso de Fisioterapia da EBMSP, Luciana Bilipario, a presença do ParaPraia é essencial para um banho de mar seguro. Ela explica que, apesar da disposição de familiares e cuidadores, o banho de mar para deficientes aumenta o risco de acidentes e novas lesões, por isso precisa ser controlado. "A depender, por exemplo, do tônus muscular, a pessoa pode flutuar muito rápido ou afundar", explica.

Quem também está satisfeito com a novidade é o paratriatleta Marcelo Collet, 33 anos, colecionador de medalhas e prêmios em sua modalidade. Ele explica que o ParaPraia pode ser uma porta importante para a chegada de novos paratletas na natação de mar aberto e triatlo, especialmente os mais jovens. "A maioria das pessoas, ainda mais numa cidade de praia, não consegue imaginar o que é não poder tomar um banho de mar. Além do prazer, é uma abertura para eles pensarem no esporte", comemora.

A primeira fase do ParaPraia acontecerá em Ondina, em frente ao Instituto Brasileiro de Reabilitação (IBR), todos os finais de semana até 16 de fevereiro, sempre das 9h às 14h.



Especial para Terra

Fonte: Portal Terra

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