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Um dos orgasmos mais marcantes que eu tive foi justamente depois da lesão", diz Juliana Carvalho
O caso de Rafael, que sofreu um acidente há 10 anos, é
de lesão medular, que acaba comprometendo as habilidades motoras e
sensitivas do corpo. Mesmo com a sensibilidade do corpo alterada, é
possível ter prazer por meio de outros estímulos, menos óbvios que a
penetração.
“Não existe nenhuma informação de que o orgasmo seja
atingido única e exclusivamente pela penetração. Então, é completamente
possível atingir o prazer de outras formas, descobrindo novas zonas
erógenas, como a nuca, mamilos, lóbulo da orelha, entre outras partes. O
casal precisa tentar”, aconselha a médica fisiatra Rosane Chamlian, da
Escola Paulista de Medicina.
Nem todos os cadeirantes, porém,
sofreram lesão na coluna. Às vezes, o problema pode ser uma doença
progressiva que afete a habilidade motora, sem prejudicar a
sensibilidade. Em casos assim, ter uma vida sexual ativa também é
possível, mesmo com o obstáculo da falta de locomoção.
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r com deficientes
Arquivo pessoal
Juliana é autora do livro 'Na Minha Cadeira ou na Sua?': orgasmo mais marcante depois da lesão
Sexo antes, sexo depois
Náusea, dor de cabeça e dores pelo corpo. A
publicitária Juliana Carvalho, que na época tinha 19 anos, estava certa
de que aqueles sintomas eram de uma ressaca qualquer. Quando precisou
ser internada, porém, recebeu um diagnóstico mais grave. Ela teve
mielite transversa, espécie de inflamação na medula, e 48 horas depois
de ter entrado no hospital caminhando, ficou tetraplégica
Com a ajuda da fisioterapia e a convicção de que estar na
cadeira de rodas era apenas algo temporário, Juliana conseguiu
reconquistar o movimento dos braços, mas da cintura para baixo nada
mudou. “Depois de oito anos recusando a ideia de ser paraplégica,
entendi que voltar a andar não era a coisa mais importante da minha
vida. Ser uma referência para outras pessoas com alguma deficiência
valia mais a pena, mostrar que a gente pode fazer tudo o que quiser,
apesar da exclusão e do preconceito”, conta ela, que encarou isso como
uma missão e publicou o livro "Na Minha Cadeira ou na Tua?" (Editora
Terceiro Nome), com o relato de suas experiências como cadeirante, em
2010.
A ideia de que tudo é possível também se aplicou à vida
sexual. Ela, que já tinha se relacionado com outras pessoas, precisou se
adaptar a um “novo” jeito de transar. Juliana se sentiu travada no
começo, com medo de que a relação não fosse tão prazerosa como antes.
Pela experiência, ela percebeu que o medo era apenas um engano.
No
centro de reabilitação do hospital, conversando com outros cadeirantes e
compartilhando experiências, Juliana percebeu que poderia ter uma vida
sexual tão satisfatória como a de qualquer outra pessoa, lesionada ou
não. “Um dos orgasmos mais marcantes que eu tive foi justamente depois
da lesão, quando eu já estava há cinco anos sem transar com ninguém”,
lembra.
Divulgação
Mara Gabrili: 'nova primeira vez' ainda no hospital
Assim como Juliana, a psicóloga, publicitária e
deputada federal Mara Gabrilli precisou se redescobrir sexualmente após
um acidente que a deixou tetraplégica aos 26 anos, em 1994. “Essa foi a
minha maior preocupação quando recebi o diagnóstico: fiquei com medo de
não ter uma vida sexual saudável, já que eu estava na cama, sem
conseguir me mexer ou respirar direito”, relembra ela.
Ainda na
UTI, Mara resolveu arriscar e acabou tendo sua “nova primeira vez” atrás
das cortinas do hospital, com seu então namorado. “Foi muito bom porque
eu vi que várias coisas estavam vivas em mim, desde o desejo até a
lubrificação. A sensibilidade era diferente, mas não estava perdida”,
diz. Nesse ponto, ficou até melhor: depois do acidente, Mara sentiu que
os orgasmos se tornaram mais duradouros. “O nosso corpo não é estático,
não está congelado. A cada dia descubro um lugar onde a sensibilidade
aumentou”, explica.
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Ao
contrário de Mara e Juliana, a estudante de Pedagogia Tuigue Venzon
teve as habilidades motoras e sensitivas comprometidas por conta de uma
má formação arteriovenosa, que a impediu de caminhar sozinha aos 20
anos. Até então, Tuigue não tinha se relacionado com ninguém. “Eu tinha
medo, achava que ninguém ia me querer. Acabou rolando com meu
ex-namorado e foi ótimo! Hoje, entendo que e experimentar é a melhor
coisa podemos fazer, para tirar qualquer dúvida”, acredita ela.
Arquivo pessoal
Rafael e os filhos: se lamentar pela própria situação nunca foi uma escolha
Coragem e criatividade
O
mais importante durante a fase de recuperação é não se deixar intimidar
pelas dificuldades e não abrir mão de uma vida sexual ativa, que traz
uma série de benefícios para o organismo. “A pessoa que redescobre a
sexualidade fica com a autoestima lá em cima, aproveita melhor a vida e
tudo isso se reflete na saúde”, afirma Rosane Chamlian..
Para o advogado Rafael Marajó, cadeirante há quase três
anos, se lamentar pela própria situação nunca foi uma escolha. Em agosto
de 2011, durante um assalto, ele levou um tiro que o deixou
paraplégico. O contato com outros cadeirantes foi fundamental para que
ele entendesse que, a partir dali, a experiência sexual seria
completamente diferente, mas nem por isso menos prazerosa.
“A
cultura masculina é a de que o prazer só é atingido com a ejaculação. O
que a gente descobre é que uma coisa é totalmente diferente da outra, e
mesmo que o cara não consiga ter um orgasmo, a relação vale a pena. Não
tem coisa mais legal do que estar com a parceira e vê-la sentindo
prazer”, conta.
Com os homens, a questão da sexualidade é um pouco
diferente. Segundo a especialista Rosane Chamlian, a ereção é possível,
a única coisa que varia é a sua duração. “A cumplicidade e o
conhecimento entre o casal é o segredo para fazer com quem essa ereção
se mantenha durante a relação”, ressalta ela.
Além disso, existem
outras alternativas que prolongam ereção, como o anel peniano, Viagra e
injeções estimulantes. Mesmo assim, vale lembrar: nenhum medicamento
deve ser utilizado sem a devida prescrição médica e cadeirantes também
estão sujeitos à contaminação por DST’s (doenças sexualmente
transmissíveis), por isso, a proteção é indispensável.
“Sexo é uma
coisa tão boa, não tem por que se esconder ou se culpar. Se der alguma
coisa errada, qual o problema? Que homem nunca broxou na vida e que
mulher nunca deixou de gozar? O fato de estar numa cadeira de rodas não é
um obstáculo para conhecer novas pessoas”, reforça Rafael.
Fonte: http://delas.ig.com.br/amoresexo/2014-02-19/vida-sexual-cadeirantes.html
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