Pets com necessidades especiais são lição diária de vida e merecem uma chance



Eles também são dignos de atenção e muito carinho. A adoção pode evitar que sejam sacrificados

Revista do CB - Correio BraziliensePublicação:19/04/2014 12:00Atualização:19/04/2014 12:10
João e Maria nasceram sem as patas dianteiras. A veterinária Rafaela os adotou, salvando-os da eutanásia (Zuleika de Souza/CB/D.A Press)
João e Maria nasceram sem as patas dianteiras. A veterinária Rafaela os adotou, salvando-os da eutanásia
Animais portadores de deficiência física precisam ser amados, cuidados e respeitados. Pelo fato de não apresentarem um corpo perfeito, sofrem rejeição durante a vida. Para eles, a procura de um lar é sempre difícil, mesmo com ajuda das feiras de adoção. “A maior dificuldade está no preconceito e na falta de informação. As pessoas, geralmente, chegam mal-informadas sobre pets cadeirantes e idosos. Querem animais muito novos e em perfeitas condições”, explica Maria José Veloso, voluntária de um grupo que incentiva a adoção.

Alguns bichos já nascem sem um membro, outros sofreram uma mutilação em algum momento — atropelamento, maus-tratos e doenças são as principais causas. Ao contrário do que muitos pensam, animais deficientes podem ter qualidade de vida. Felizmente, existem tratamentos que os beneficiam, como fisioterapia e acupuntura.


Rafaela Magrini, 28 anos, veterinária e dona dos vira-latas João e Maria, já emocionou muita gente com a história de superação dos dois. Os animais foram deixados na rua junto com seis irmãos. Apenas os dois nasceram sem os membros da frente. Os animais foram recolhidos e entregues à veterinária. A princípio, a pessoa queria sacrificá-los. A veterinária, revoltada com essa decisão, preferiu recolher o dinheiro da eutanásia para cuidar dos animais. “No dia em que a pessoa chegou aqui, querendo a eutanásia dos cachorros, eu fui muito grosseira com ela. Mas depois, eu compreendi que não é todo mundo que está preparado para ver um cachorro sem patas.”

Dogi é um vira-lata de 5 anos. Ele é cadeirante e ficou quatro anos à procura de um lar (Blog Furry Tail)
Dogi é um vira-lata de 5 anos. Ele é cadeirante e ficou quatro anos à procura de um lar
Foram seis meses cuidando, amamentando e tratando da adaptação dos animais. Os pets foram para a adoção, só que a história teve outra reviravolta quando a veterinária decidiu ficar com os irmãos. “Quando eles fizeram 6 meses e estavam aptos a serem adotados, eu não tive coragem, já estava apegada”, conta a veterinária, que, além da dupla, tem mais três cachorros e seis gatos.

João e Maria estão com 3 anos, são supersaudáveis e um sucesso no Facebook, com várias curtidas. Rafaela conta que a internet serviu para incentivar a luta contra o preconceito. Segundo ela, a campanha na web é para mostrar que, apesar de serem deficientes, eles podem ter uma vida normal. É claro que adotante e adotado precisam de um tempo para se adaptarem. Os irmãos, por exemplo, chegaram a experimentar cadeiras de rodas. Não deu certo, eles se sentiam presos e levavam tombos com o aparelho. Hoje, Maria prefere andar com peito apoiado no chão, enquanto João se equilibra nas patas traseiras, a um palmo de distância do solo. Os animais são muito dóceis, alegres e saudáveis. A única preocupação da veterinária é que eles desenvolvam algum problema de coluna no futuro.

Dogi é um vira-lata de 5 anos. Ele é cadeirante e ficou quatro anos à procura de um lar. O cãozinho foi atropelado e perdeu o movimento das pernas. Durante esses quatro anos, ficou alojado em hotéis e abrigos temporários. A secretária Bárbara Freitas, 25 anos, e o analista de marketing Marcos Campos, 26, o adotaram por meio do Facebook. Para Bárbara, foi amor à primeira vista.

Mesmo sem conhecer o animal, ela ficou comovida pelo fato de ele ser deficiente físico e estar há muito tempo sem dono. “Escolhemos ele primeiro pela doçura e, depois, por ser cadeirante. Dificilmente, as pessoas adotam animais idosos ou especiais, e decidimos dar essa oportunidade. Hoje, não conseguimos imaginar nossa casa sem ele”, conta Bárbara.

Ao contrário do que muitos pensam, animais deficientes podem ter qualidade de vida. Felizmente, existem tratamentos que os beneficiam, como fisioterapia e acupuntura (Zuleika de Souza/CB/D.A Press)
Ao contrário do que muitos pensam, animais deficientes podem ter qualidade de vida. Felizmente, existem tratamentos que os beneficiam, como fisioterapia e acupuntura
Apesar de todas as limitações, o cachorro é muito feliz e adaptado à rotina da casa. Ele precisa usar fraldas, e os donos têm cuidado de aplicar pomada para assadura e sempre observar as patas traseiras dele, já que elas arrastam no chão o tempo inteiro. “O uso da cadeirinha de rodas é muito importante, pois só dessa forma ele consegue brincar e passear na rua sem machucar as patinhas, aliás, quando ele está na cadeirinha, corre mais que todos, é muito ativo”, diz a secretária. O tratamento de Dogi é completado com sessões de fisioterapia e acupuntura. Bárbara e Marcos têm ainda outros dois cães, três calopsitas e um peixe beta. Todos convivem em perfeita harmonia.

Cadeira de rodas caseira
A química Dani Navarro, 28 anos, fabrica cadeira de rodas para animais. Ela e o marido começaram a produção depois que o cachorro da vizinha foi atropelado. Montaram essa primeira cadeira com PVC e deu certo — a alegria do animal os encheu de orgulho.

O objeto sai por cerca de R$ 40. Dani diz que a construção é bem simples e que chegou a receber encomendas até de fora do país — duas dos EUA e diversas de Portugal. Neste momento, porém, ela não está mais aceitando pedidos, mas envia o passo a passo da montagem. “É emocionante vê-los correndo de novo. Sei que, de uma forma ou de outra, estou ajudando, dentro das minhas possibilidades”, afirma.

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